Nas ruas de Brasília, como na Praça da Juventude no Paranoá, adolescentes ainda com traços de infância são atraídos pelo crime organizado, revelando uma falha gritante nas políticas de inclusão social. Episódios recentes, como o assassinato de Isaac Augusto de Brito Vilhena, 16 anos, esfaqueado por três menores durante um assalto na 112 Sul em 17 de outubro, ou a morte do policial penal Henrique André Venturini, 45, em uma abordagem violenta no Riacho Fundo II, destacam como jovens se tornam autores de atos brutais. Da mesma forma, o caso de Gabriel Silva Cardoso, 17, baleado em Ceilândia por um suposto acerto de contas ligado a uma importunação contra uma menina de 11 anos, e o esfaqueamento fatal de Eumar Vaz, 34, por um adolescente de 16 anos em um ônibus após uma partida de futebol, ilustram uma onda de violência que expõe a vulnerabilidade desses menores. É inegável que o desejo por pertencimento e poder, em contextos de educação precária e cultura limitada, os torna presas fáceis para facções como o Comboio do Cão, inspirado em grupos nacionais como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital.
Especialistas apontam que o recrutamento precoce decorre de um vácuo de perspectivas, agravado pela legislação mais branda para menores, o que o crime organizado explora com astúcia. O delegado Rodrigo Larizzatti, da Delegacia da Criança e do Adolescente na Asa Norte, enfatiza que 80% dos adolescentes apreendidos por crimes graves evadem da escola e usam drogas, muitas vezes oriundos de famílias desestruturadas onde pais ausentes deixam os filhos “a Deus dará”. Estudos, como o de Minas Gerais em 2018, revelam que esses jovens firmam “pactos” com grupos criminosos, espelhando-se em líderes e celebrando missões bem-sucedidas, apesar de conhecerem o destino profético de “caixão ou prisão”. O criminalista Adilson Valentim critica o sistema socioeducativo por faltar cursos profissionalizantes efetivos para reinserção, defendendo maior rigidez no artigo 244-B do ECA para punir adultos que corrompem menores. Essa realidade política clama por reformas urgentes, pois o aumento de 4,2% nas mortes violentas intencionais de adolescentes em 2024, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, contrasta com a queda geral de 5,4%, sinalizando uma crise que políticas ineficazes perpetuam.
Do ponto de vista psicológico, como explica o psicólogo Wanderson Neves, esses adolescentes sabem que seus atos são ilícitos, mas faltam maturidade cognitiva e emocional para avaliar riscos e consequências, com déficits no córtex pré-frontal que afetam o planejamento e a empatia. Em regiões como o Itapoã, onde ruas como a da Paz são conhecidas como “Rua da Morte” devido a guerras entre gangues como Fábrica de Luto e Vinte e Nove do Itapoã 2, resultando em 489 homicídios e tentativas de 2018 a 2023, meninos de apenas 12 anos já evitam certos caminhos por medo. Essa dinâmica subjetiva, marcada por traumas e exclusão, reforça que intervenções estatais devem ir além da repressão, investindo em suporte psicossocial e projetos de vida para romper o ciclo. Sem isso, o Distrito Federal continuará assistindo à erosão de sua juventude, uma falha política que compromete o futuro da capital.




