Política

A oca suspeita: loja no aeroporto de Brasília e os laços com fraudes no INSS

Uma lojinha no Aeroporto de Brasília, com estrutura semelhante a uma oca e dedicada à venda de artigos indígenas, tem chamado atenção não apenas pelo visual exótico, mas pelos bastidores controversos de seus sócios. Ligada à Confederação Nacional dos Agricultores e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), a empresa conta com Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da entidade e preso em investigações sobre desvios no INSS, e Tehiana Gomes de Freitas Pataxo, atual chefe da Secretaria Nacional de Povos, Comunidades Tradicionais e Política Social (Sepocs) da Conafer. Essa conexão revela como empreendimentos aparentemente culturais podem mascarar redes de influência questionáveis, especialmente em um contexto político onde ONGs como a Conafer são acusadas de arrecadar R$ 688 milhões por meio de descontos indevidos nas aposentadorias de camponeses e indígenas desde 2019, conforme apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). É preocupante que figuras centrais em escândalos bilionários mantenham negócios públicos, o que sugere falhas na fiscalização de entidades que lidam com recursos previdenciários.

Tehiana, que assumiu o cargo na Sepocs no início deste ano, carrega um histórico pessoal grave: em julho de 2024, foi condenada a 13 anos de prisão pelo Tribunal do Júri de Camacã, na Bahia, por atropelar e matar uma criança de quatro anos em 2021, no município de Pau Brasil. Sem habilitação e dirigindo uma caminhonete Hilux do namorado, ela perdeu o controle do veículo, atingindo o menino contra uma parede e fugindo sem prestar socorro, resultando em morte por traumatismo cranioencefálico. Seu namorado, Renato dos Santos Rocha, proprietário do carro, recebeu pena de dois anos e oito meses por homicídio culposo. Apesar da sentença, Tehiana recorreu e responde em liberdade, o que levanta debates sobre a efetividade da Justiça em casos de crimes culposos envolvendo figuras públicas. Em um tom opinativo, essa situação expõe como condenações graves não impedem ascensões em organizações influentes, potencializando riscos éticos em políticas sociais voltadas a comunidades vulneráveis.

A Conafer, investigada na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, promove o Programa +Previdência Brasil como uma iniciativa educativa sem custos, mas auditorias da CGU revelaram descontos não autorizados em benefícios de 621.094 aposentados apenas no primeiro trimestre de 2024. Durante depoimento na CPMI, em setembro, Carlos Roberto confirmou repasse de R$ 214 mil a Tehiana, sem explicar o motivo, embora ela não seja formalmente investigada. Essa opacidade financeira, aliada à loja no aeroporto, ilustra como esquemas previdenciários podem se entrelaçar com atividades comerciais, demandando maior transparência em entidades que representam agricultores e indígenas. Opinativamente, o caso reforça a necessidade de reformas no sistema de ONGs para evitar que fraudes e controvérsias pessoais comprometam a credibilidade de políticas públicas essenciais.

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